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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

REPORTAGEM DO JORNAL GLOBO BARRA SOBRE AS PÉSSIMAS CONDIÇÕES DAS VIAS PÚBLICAS DA BARRA E DO RECREIO.

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Obstáculos no caminho dos cadeirantes na Barra e no Recreio

Ruas sem asfalto e com lama, calçadas esburacadas e rampas muito íngremes são só alguns dos problemas de acessibilidade enfrentados por deficientes físicos na região

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A AUSÊNCIA de rampas obriga o cadeirante a se arriscar Foto: Paulo Nicolella
A AUSÊNCIA de rampas obriga o cadeirante a se arriscarPAULO NICOLELLA
Todos os dias, Marcos Ladeira Taborda acorda às 5h50m para conseguir sair do Recreio e estar às 8h em seu trabalho, na Barra. Ele diz que precisa se levantar cedo, não por ser complicado executar suas tarefas em cima de uma cadeira de rodas, mas sim por causa das dificuldades encontradas pelo caminho.
— Já me planejo sabendo que o ônibus pode demorar a passar, o motorista pode não parar ou o elevador do veículo pode não funcionar. Além disso, andar pelas ruas não é tão fácil assim. O trajeto da minha casa até o trabalho, que eu poderia fazer em 30 minutos, demora cerca de uma hora — diz Taborda.
As principais queixas são o transporte público para deficientes físicos, as calçadas desniveladas e esburacadas, e a ausência ou a grande inclinação das rampas.
— Ao andar na rua, às vezes, sou obrigado a colocar em risco a minha segurança. Na Avenida das Américas, em frente ao Barra Plaza e ao BarraShopping, tem uma rampa que não leva a lugar nenhum. O jeito é andar pela lateral da pista, com os carros passando bem próximos a mim. As rampas que deveriam ser um facilitador, na maioria das vezes, estão em péssimas condições ou são muito inclinadas. As ciclovias, que poderiam ser uma alternativa, estão em péssimas condições. Para ser um cadeirante, é preciso ter destreza. Não é qualquer um que tem condições de se movimentar com facilidade — conta Taborda.
No Recreio, ele já se acostumou a andar por ruas sem asfaltamento.
— Quando chove, tenho que andar atento e com cuidado para a cadeira não atolar — diz Taborda.
O número de deficientes que têm problemas para circular na cidade é tão grande que o presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa, Márcio Pacheco, diz que a comissão é a segunda mais requisitada na Alerj.
— A demanda é enorme. Só ficamos atrás da Comissão de Defesa do Consumidor. As principais queixas são o transporte urbano e a acessibilidade urbana.
A secretária municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD), Georgette Vidor, diz que a prefeitura está empenhada em melhorar a vida dos cadeirantes.
— Quando o prefeito Eduardo Paes criou o projeto Asfalto Liso, sugeri a criação do Calçada Lisa. O projeto vai beneficiar não só os pedestres, mas principalmente as pessoas com deficiência, grávidas e idosos. Mais rampas serão construídas e uma série de mudanças vêm por aí. Pouco a pouco, a cidade toda vai começar a sentir as melhoras — afirma Georgette.
A secretária também informa que a SMPD está atuando em conjunto com as secretarias de Obras, de Conservação e de Urbanismo para tornar o Rio uma cidade mais acessível.
— A partir de agora, todas as obras na cidade, sejam de manutenção ou de conservação, vão ter acessos e preocupação com pessoas com deficiência — diz Georgette.
Mesmo com os esforços da SMPD, a estação de BRT Novo Leblon, inaugurada em setembro, foi alvo de críticas do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD).
— A rampa de acesso não segue as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A inclinação é muito maior do que deveria ser — diz Ângela Werneck, arquiteta e consultora do IBDD.
Georgette concorda com as observações.
— Enviamos especialistas até o local e passamos para a Empresa Olímpica as mudanças que devem ser feitas. — afirma Georgette.
Mesmo com as críticas, a Secretaria municipal de Obras (SMO) informa que nenhuma obra será feita e que a observação não procede, já que a rampa foi construída obedecendo o padrão da ABNT.
O presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa (Alerj), Márcio Pacheco, acredita que o casamento entre as secretarias é um grande avanço e que é o primeiro passo que a cidade está dando para mudar o quadro da acessibilidade.
— Não é qualquer um que está preparado para fazer obras de acordo com as normas de acessibilidade. Por isso, deve existir uma fiscalização dentro das secretarias. Essa parceria é fundamental para que erros como a rampa da estação BRT Novo Leblon não aconteçam — explica Pacheco.
Rampas sem a adequação ideal são encontradas em diversos lugares da região, inclusive no acesso a estabelecimentos comerciais. No Carrefour da Barra, existem duas rampas muito inclinadas que, no final, têm um degrau e grades. O outro acesso fica cerca de 300 metros à frente dessa rampa. No entanto, para chegar até ele, o cadeirante deve atravessar a entrada e a saída do estacionamento e precisa habilidade para subir o degrau da calçada.
— Quando vou ao Carrefour, entro junto com os carros. Caso contrário, tenho que ir até o BarraShopping e usar a única entrada que é adaptada para deficientes — conta o cadeirante Marcos Ladeira Taborda.
O Carrefour informou que possui uma única entrada disponível para pedestres que está adequada para o acesso de pessoas com mobilidade reduzida, ao lado do BarraShopping.
A Secretaria da Pessoa com Deficiência e a Comissão da Pessoa com Deficiência da Alerj solicitam que as pessoas denunciem suas dificuldades. Esta última disponibiliza um número (0800-2855005) para reclamações e pede que, quando essas forem referentes à ônibus, as pessoas informem o trajeto, o horário, o número da linha e o que não funcionou.
— A população é o melhor fiscal e tentamos sempre atender a todas as denúncias. Muita coisa ainda tem que ser feita — diz Pacheco.


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